domingo, 4 de maio de 2014

Tres Textos de Torres [TTT]

CEMITÉRIOS E MISTÉRIOS
“E peço, quando eu/morrer/não me por em cemitério/existe muito mistério”. Vitor Ramil/Gaudério/Ramilonga

            No livro “Paróquia de Sombrio” o Padre Raulino Reitz informa que um dos cemitérios da localidade de Espigão de Barro foi inaugurado com a morte do primeiro rebelde “maragato”, Camilo Manoel da Silva, que o autor do livro “Praia Grande –cidade dos canyons, 180 anos de história”, apesar de citá-lo não sabe de quem se trata. Diz também o referido sacerdote, na mesma obra, que a história da Paróquia de Sombrio foi iniciada com a compra de uma sesmaria, 1820, por Manoel Rodrigues da Silva e seu irmão Luciano, e que na mesma região de Espigão de Barro o pai de Manoel Rodrigues foi retirado da cama de madrugada e morto pelos pica-paus, o que causou uma revolta que se espalhou por toda a região, Rio Verde, Passo do Sertão e outras localidades.
            Da localidade de Tenente, cujo nome, conforme o mesmo religioso, na mesma obra, está ligada a morte de um oficial republicano em luta com os federalistas, até Praia Grande existem mais de dez cemitérios, uma quantidade espantosa, levando-se em consideração a pequena distância, relativamente, entre as duas localidades, trecho em que segundo algumas pessoas ainda hoje se ouve, em noites enluaradas, junto a árvores antigas, gritos de despedida: “Adeusssssss, meu Paiiiiiiii! Adeusssssss minha Mãeeeeee!” A respeito é interessante citar o escrito “A Cidade das Águas -  Torres-RS”, publicado na página central de “Ler & Cia”, nº. 10, de janeiro de 2001, na parte referente à Lagoa do Violão: “Conta-se que durante a revolução de 1893 alguns prisioneiros foram degolados em suas margens. Isso era razão para os gemidos que diziam se ouvir à noite”.
             Nesta época, quando em Torres vivia o poderoso, político e polêmico padre J. Lamônaco, que alguns insistem em grafar “Lomônaco” ou “Lomonoco”, essa cidade possuía dois cemitérios: um oficial em cima do Morro do Farol, em cuja porta aconteceram fuzilamentos, e outro clandestino no sopé sul-serra do mesmo Morro, que Manoel Jausino e Ernani Hoffmeister chamam de “cemitério velho” e o Dr. João Aires da Silva, grande conhecedor de assuntos históricos e, principalmente, geográficos da região, chama de “cemitério dos degolados”, local onde pessoas eram executadas. A respeito é extremamente esclarecedor a informação de Jovina da Silva Coelho, de quase 90 anos lúcidos, residente no Passo de Torres-SC, filha de José Rodrigues da Silva Filho, neta de José Rodrigues da Silva, bisneta de Manoel Rodrigues da Silva, sobrinha de outro Manoel Rodrigues da Silva, o maragato, irmã de José Rodrigues da Silva Neto: a de que seu avó José Rodrigues da Silva foi preso em Praia Grande e executado em Torres, sendo enterrado, por um parente chamado Maneca Porto, nas areias da Praia da Cal, entre a Lagoa do Violão e o Morro do Farol, a poucos metros, portanto, do chamado “cemitério dos degolados”.
            Sobre as peripécias dos restos mortais do polêmico padre de origem italiana e sobre a chegada de italianos na região, que um escrito de Sombrio e vários de Torres, equivocadamente, afirmam ter ocorrido antes de 1875, por razão de tempo e espaço, abordarei em uma próxima oportunidade, se Aquilo que prefiro chamar de “Sem nome” ou “Sem fim”, e que os vários grupos bíblicos (monoteístas) chamam de Jeová (mosaístas), Deus (cristãos), Alá (maometanos), que os védicos (e outro politeístas) conceituam de formas variadas, e que os ateístas, sejam eles laoteseanos, confucianos, marxianos, krishnamurtianos e etc., preferem não definir, assim o permitir.
            Outubro de 2001



“O SEQUILHO” REVISITADO
            Falei com pessoas de mais de 50 a quase 100 anos que de alguma forma conhecem o assunto. Ainda não foi possível uma conclusão definitiva sobre o “Homem da Igreja São Domingos”, que é evitado por estudiosos e pesquisadores, mesmo como “lenda”.
            Uma dona de casa, quando saia do Grupo Escolar Marcílio Dias, no Morro do Farol tinha muito medo de passar próximo da igreja por causa do “Homem Seco”. O mesmo acontecia com uma professora, hoje aposentada, ao passar próximo da sacristia da mesma igreja, por causa do “Homem Ruim”.
            Heitor M. Carneiro, irmão da minha primeira professora (1951-53), afirma que mesmo acompanhado por um primo, provavelmente antes de 1950, não teve coragem de encarar o “Homem Monstruoso”. O mesmo aconteceu com um carpinteiro que na hora “H” fraquejou e não teve coragem de entrar na peça em que estava o “Velhinho Seco”.
Um antigo balconista da Casa Oscar Raupp, hoje aposentado e com mais de 70 anos, que nasceu e se criou a poucos metros da Igreja São Domingos, com muito medo cansou de ver o caixão preto do falado “Homem Seco”, juntamente com outros guris da época.
Outra pessoa, com quase 80 anos de idade, informa que viu o “Ruindade” enrolado num couro, que chacoalhava como um porongo seco, o que o sacristão dizia que se tratava do corpo de “Mané Rodrigues”, o qual vinha a ser até parente do informante por parte de mãe.
A senhora Jovina da Silva Coelho, com quase noventa anos, filha de José Rodrigues da Silva Filho, um dos comandantes maragatos da região, neta de José Rodrigues da Silva, simpatizante maragato morto em Torres e sepultado às pressas nas areias da Praia da Cal, entre a Lagoa do Violão e o Morro do Farol, por tanto perto do cemitério “velho” ou “dos degolados”, e bisneta de Manoel Rodrigues da Silva, falou-me: “dizem que o corpo do meu bisavô está na Igreja São Domingos”.
Uma senhora, com quase 100 anos de idade, perfeitamente lúcida, afirma que viu o “Homem Misterioso rejeitado pela natureza”, atrás de uma cortina, dentro da Igreja São Domingos, por volta da segunda década do século XX.
O padre Raulino Reitz na “História da Paróquia do Sombrio” narra que Manoel Rodrigues, irmão de Luciano Rodrigues da Silva, proprietários da Sesmaria dos Curralinhos, e genro de Manoel Ferreira Porto, foi sepultado na primeira capela de Torres, juntamente com sua esposa, informação praticamente confirmada por uma reportagem do jornal “Folha da Manhã” de Porto Alegre, em 1973, sobre restos mortais encontrado na frente do Farol Hotel.
O estudioso e pesquisador José Krás Selau, que tem conhecimento do assunto do “Homem da Igreja” e afirma que Rui Ruben Ruschel também tinha,  no livro “Colônia de São Pedro – Um pedaço da história”, informa que o Padre José Silva, por ser simpatizante do Espiritismo, foi praticamente corrido de Torres em 1913, portanto 2 anos após a morte do Padre Lomônaco, influente político local, governista, na virada dos séculos XIX e XX.
Na torre da Igreja São Domingos, além da imagem de “Nosso Senhor dos Passos”, existe outra imagem de Cristo, fora da cruz, conhecida por “o Senhor Morto”. Além das imagens sacras, a referida torre, abriga, por dentro e por fora, sem nenhuma indicação precisa, restos mortais humanos.
Embora os últimos dados escritos e último fato descrito, todos facilmente verificáveis, lancem alguma luz sobre o mistério do “Homem Seco” continuo com fortes razões para desconfiar que aquilo que o seu “Neném”, pai do Adriano, conhecido do Heitor, vizinho do seu Ernani e de Antônio Jausino, conhece  por “o Sequilho”, tem relação com a morte e sepultamento do simpatizante maragato, nas proximidades do cemitério “velho” ou “dos degolados”.
A matéria terá desdobramentos.
Torres, abril de 2001.
CEMITÉRIOS
            Na torre norte e suas imediações, ou o Morro do Farol como é mais conhecido, onde se iniciou a cidade de Torres, existiram no mínimo três cemitérios.
            O último, que foi desativado na primeira metade da década de 1950, já existia em 1894, ano em que em sua porta ocorreram no mínimo dois fuzilamentos, localizava-se exatamente no “estacionamento” existente no alto do Ponto geográfico antes referido, de frente para o mar.
            O penúltimo, que segundo Ruy Ruben Ruschel foi criado entre 1861/1862, e foi desativado após 1898, em razão da invasão das areias, é também conhecido por “cemitério dos degolados”, conforme informação do veterinário aposentado e médico atuante João Aires da Silva.
            O ante penúltimo, ao que se sabe, estava localizado próximo da SAPT, na frente do Farol Hotel, onde em 1973 foram encontrados esqueletos do casal Cândida e Manoel Rodrigues da Silva, genro de Manoel Ferreira Porto e pai de José Rodrigues da Silva. Seria este o cemitério que ficou pronto juntamente com a Igreja de São Domingos, de que fala Francisco de Paula Soares, quando estava para receber os imigrantes alemães, ou haveria outro junto à mesma Igreja como afirmam alguns?
            Fica, no mínimo, mais uma indagação: não é muito cemitério para uma pequena localidade do século XIX, mesmo tendo passado por duas revoluções sangrentas, em menos de seis décadas, a dos farrapos e a dos federalistas? 
            De se notar que as datas entre o fim do penúltimo (após 1898) e o início da existência do último (1894), estão mais do que “apertadas”, para não dizer incongruentes.

“INCURTURA E INGNORANÇA”
            “Jamais conheci, em todo o Brasil, um povo e um lugar

tão atrasado como  Torres”.

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